É
inegável que os caminhos de Deus são misteriosos. Deus é um Deus misterioso (Is 45.15). O reino de Deus é um mistério. Cristo e a igreja são um mistério (Ef
5.32). A Piedade é um mistério (ITm
3.16). E o evangelho é cheio de
mistério... Com tudo isto de mistério, Deus tem um propósito, ou seja, fazer
separação entre os que querem compreender os mistérios, os que querem buscá-los
(Mt 13.13-18), como a um tesouro oculto (Mt 13.44), e os que não estão
dispostos a vencer a indisposição desta busca e despender tempo para a devida
compreensão.
Mas, a um coração humilde, contrito,
que julga o reino de Deus como um tesouro precioso, que tenha um coração
responsivo e ouvinte, a estes se darão, e terão, cada vez mais, esta mesma
disposição em buscar. É assim que,
durante a história, o Senhor tem revelado seus mistérios a seus santos (Mt 11.25;
ICo 1.26-29). Foi o caso de Moisés: A Israel, Deus mostrou seus feitos, mas a
Moisés, os seus caminhos (Sl 103.7; Ex 33.13).
O povo conhecia os feitos do Senhor, mas Moisés conhecia os motivos
pelos quais eram realizados.
Os caminhos do Senhor só são
revelados para os que têm prazer neles, e provam isto buscando-os. Desta forma é feita uma distinção, uma
triagem (Sl 4.3). É uma triagem bastante
eficaz, pois os que buscam conhecer os mistérios de Deus, seus caminhos, provam
que possuem disposição (IIPd 1.5), que são agradáveis a ele, a ponto de vencer
os espinhos, que são valiosos, e que são dignos de se despender energia e tempo
para compreendê-los. Mas a principal
triagem é feita quando se descobre que estes caminhos não são fáceis de se
trilhar e nem atraentes. Pelo contrário,
por vezes aparecem neles os espinhos, e não se pode desviar deles, pois o
caminho é estreito (Mt 7.13 e 14). (Se
você chegou até aqui, e acha que passou no teste, você ainda não viu nada; só tocamos na orla da questão).
Não há nada de atraente e popular no
que vamos dizer. (A Piedade não dá
IBOPE). O caminho de Deus é, também,
caminho de aflição (Jo 16.33). Só esta
afirmativa já faz muita gente boa torcer o nariz. Por que será?
Porque é aí que muitos se confundem.
O sal dá o sabor, mas, também, arde na ferida. Servir a Deus traz dificuldades, sim, e é
difícil compreender isto numa sociedade que clama tanto por facilidades e
direitos humanistas. Esta estória de que
os ímpios é que são punidos e os justo são, sempre, bem sucedidos não é
nova. Elifaz, Bildade e Zofar já
defendiam esta tese diante do sofrimento de Jó (e tiveram de se retratar com
ele, por isso).
De que adianta, então servir a
Deus? Esta tem sido uma pergunta que tem
percorrido séculos. Até mesmo
experientes na presença de Deus a têm feito (Sl 73.3-14). De fato, isto confunde qualquer cristão
descuidado (Ml 3.14,15), e não poucos zelosos.
É natural buscarmos a Deus para nos
vermos livres das dificuldades, do sofrimento, das perseguições, uma vez que o
evangelho que dá IBOPE é, sem dúvida o da prosperidade (por isso não se vêem
pregações sobre o Temor a Deus ou Piedade).
Naturalmente, rejeitamos as dificuldades, lutas e sofrimentos, isto
porque o homem natural não compreende os caminhos do Senhor (ICo 2.14-16). Daí ficar surpreso quando descobre, na
Bíblia, testemunho de irmãos piedosos, que sofreram fome e sede, e nudez, foram
esbofeteados e não tiveram morada certa, foram injuriados, caluniados,
perseguidos como lixo (ICo 4.10-13).
Irmãos que, apesar de maltratados, atribulados, abatidos, açoitados,
presos, ultrajados..., foram tidos como o modelo de vida cristã (ITm 1.5,16; Fp
3.17; Ef 3.18; IICo 4.8,9; 6.4-10; ITs 2.2).
Pulamos por cima de textos que afirmam que para isto fomos designados
(ITs 3.3), pois todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos (IITm 3.12). Este é o
verdadeiro evangelho, e não aquele centrado no homem, onde Deus existe para
cuidar do homem, fazer com que tudo dê certinho e satisfazer aos seus desejos e
ambições egoístas. Não é esta a condição
de servos (escravos) que aparece na Bíblia (:c 17.7-10). Mas não é isto que queremos. Queremos continuar crendo, num evangelho que
garante que eu nunca fique doente, que meu salário seja o melhor, que nosso
carro nunca quebre ou bata, que nunca sejamos acometidos pelas visitas
indesejáveis dos amigos do alheio, que passaremos na prova para uma grande
faculdade, e coisas semelhantes a estas, cuja egolatria é notória para quem
quer ver!
Alguém poderá retrucar: Mas,
“A alegria do Senhor é a nossa força” (Ne 8.10). É verdade, e continuará sendo, sem sombra de
dúvida! Então, tudo isso é uma
contradição a esta verdade!
Absolutamente! E quem disse que tribulações, dificuldades e sofrimentos
são motivos de tristeza? (IICo 4.8,9;
6.10). Ainda temos muito que aprender,
principalmente com os cristãos do primeiro século, que sentiam regozijo por
terem sido considerados dignos de participar dos sofrimentos de Cristo (At
5.41). Era assim que a igreja caminhava,
não só aceitando o sofrimento, mas aceitando com alegria, sabendo que possuíam
patrimônio superior (Hb 10.32-34). E não
só com alegria, mas com exultação recebiam estes sofrimentos (IPd 1.6;
4.13). Este é o significado de “Filho
meu, dá-me teu coração, e teus olhos se agradem dos meus caminhos” (Pv
23.26). É receber com alegria e regozijo
este caminho, por mais estreito e difícil que pareça, considerando que, com
isto, nos tornamos co-participantes de Jesus Cristo e nos identificamos com Ele
em Seus sofrimentos (Fp 3.7-10). Não é
sem motivo que Paulo, modelo dos cristãos, e outros irmãos se alegravam nos
sofrimentos, pois assim, repousava sobre eles o Espírito da glória (IPd
4.14). Quando não aceitamos os caminhos
do Senhor, estamos, na verdade, rejeitando a obra, o tratamento, o propósito e
objetivo do Senhor, a finalidade que Ele tinha com este caminho para nossas
vidas especificamente. Nossa atitude
deve ser a mesma de Paulo e Silas:
Sacrifícios de louvor (At 16.22-25), para que, afinal, possamos colher
os frutos (At 16.26-34; IIPd 1.8-11.